segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

 Suicídio é uma das maiores causas de morte em Cabo Verde

Autoridades, investigadores e técnicos da área das Ciências Sociais estão a ficar preocupados. O índice de suicídios no nosso país tem aumentado a um nível preocupante. Todos os anos há mais casos. Cada vez são mais jovens. No ano passado em Mindelo foram seis as pessoas que resolveram pôr termo à própria vida. O último caso registado antes do início desta reportagem aconteceu em São Vicente.
Aconteceu em plena altura do Natal. Chamava-se Tiago Mota. Tinha 17 anos de idade e estudava na ilha do Sal. Foi passar as férias com os familiares no Mindelo e decidiu colocar um ponto final na sua vida.
Morreu por enforcamento. Quem o encontrou foi o próprio pai quando este chegou do trabalho na zona de Ribeira de Craquinha, na ilha do Monte Cara. As causas continuam desconhecidas.
Apesar de não se saberem dados concretos que possam ter levado a este desfecho uma fonte citada pela Inforpress avançou a hipótese de o jovem poder estar a passar por uma depressão. Ficou-se igualmente a saber que alguns dias atrás um irmão da vítima tê-lo-ia encontrado em prantos, alegadamente por sentir falta da mãe que se encontra fora de Cabo Verde.



Para um país que conta com pouco mais de meio milhão de habitantes os números são preocupantes. De acordo com a diretora do Programa Nacional de Saúde Mental (PNSM) em Cabo Verde, o suicídio está entre as 10 principais causas de morteno país, sublinhando ser preciso "maior prevenção". Margarida Cardoso (MC), citada pela Inforpress lembrou que o número de suicídios em Cabo Verde tem aumentado de ano para ano. Os números anuais rondam os 50. Os dados avançados por MC enquadram-se nas comemorações do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que, no último trimestre do ano passado, tiveram por lema "Estigma: Uma Barreira Importante na Prevenção do Suicídio". Segundo Cardoso, em termos de prevenção, o ministério tem em prática ações protetoras de saúde para todo o tipo de patologias, mantendo os fatores de proteção organizados e estimulando comportamentos familiares e sociais saudáveis.
Embora o suicídio seja um assunto de que poucos querem falar, os profissionais da saúde alertam para a prevenção, considerando que o suicídio pode ser evitado através da prevenção.

Dados da OMS
As projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para quase três mil suicídios por dia em todo o mundo, ou seja, um a cada 40 segundos. Segundo a OMS, “a depressão é uma doença que está cada vez mais evidente”. Além disso, é também estimado que mais de 1 milhão de pessoas acabem com suas próprias vidas por ano. O outro denominador comum “tem a ver com as estruturas sociais e familiares. As pessoas estão cada vez mais isoladas, sem um suporte familiar adequado. Muitas vezes com os próprios problemas, o transtorno emocional vai aumentando e pode culminar numa tentativa de suicídio ou na concretização do suicídio”. O fenómeno está, na maioria das vezes, associado às doenças mentais, principalmente a depressão, e ao abuso do álcool. Além destes motivos, outros, como dificuldades económicas, estão agorareconhecidos, como motivos inteiramente legítimos, independente da doença mental, para o suicídio.
Com base em tendências globais atuais, o número daqueles que cometem suicídio é esperado a exceder um milhão e meio de pessoas pelos próximos 2 anos.

O caso de Cabo Verde
Os indicadores demonstram que cerca de 90 por cento das pessoas em todo o mundo que cometeram suicídio passaram, em algum momento, por uma perturbação mental. Por essa razão, em Cabo Verde, o ministério tem incidido no aconselhamento psicoterapêutico e nos tratamentos com psico-ativos e medicamentosos.
Avaliando a atenção que ultimamente tem sido dedicada à questão do suicídio, a verdade é que se transformou num dos problemas que mais tem afetado a sociedade cabo-verdiana. Nos últimos anos o índice tem aumentado. Atualmente, o número de casos de doenças mentais e dependentes de álcool - em particular entre a camada jovem -, que muitas vezes resulta em suicídio tornou-se preocupante, levando as autoridades a dar mais atenção ao problema.
O presidente da Associação de Promoção da Saúde Mental (A Ponte), o psiquiatra Daniel Silves Ferreira, revelou que a taxa de suicídio em Cabo Verde ronda os 16 por cada 100 mil habitantes, e que, em alguns casos, o país fica um pouco acima da média mundial. Em todas as ilhas do país têm-se registado vários casos. Em São Vicente no decurso do ano de 2016 registaram-se seis casos de suicídio.
O primeiro aconteceu em Março último, na zona de Monte Sossego, quando o jovem  Sandro Lima de 37 anos atou uma corda ao pescoço pondo termo à própria vida. O mês de Abril foi o mês que registou o maior número de suicídios em São Vicente. Um total de quatro casos. Na zona da Ribeirinha, uma senhora foi encontrada com uma corda ao pescoço. O segundo caso ocorreu na zona de Fonte Filipe, onde o jovem Fredilson Delgado deu um tiro na cabeça em casa da namorada. Na zona de Chã de Alecrim mais um jovem de 30 anos Eder Rocha, pôs termo à sua vida sem motivo aparente. Nem os psiquiatras estão excluídos do problema. Um outro caso a registar foi o do psiquiatra Irineu Gomes que pôs termo à vida através do enforcamento.

Suicídio: um problema de saúde pública
O suicídio em Cabo Verde já é considerado um problema de saúde pública de grande preocupação que atinge cada vez mais a camada jovem, associado a novos fatores como a situação socioeconómica.
O psiquiatra Daniel Ferreira acredita que o suicídio é algo que pode ser prevenido, desde que a sociedade e os familiares da vítima colaborarem na sua prevenção. “É preciso apostar e acreditar na prevenção e, sobretudo, valorizar aqueles que preferem procurar apoio e lutar pela vida, garantindo-lhes todo o suporte emocional e afetivo para que possam encontrar forças para escolher pela vida e não o suicídio”, avança.

Fatores que podem levar ao suicídio
“Os fatores de risco como a droga, o álcool, a exclusão social, o estigma e o preconceito estão integrados na sociedade, dificultando a recuperação, integração ou reintegração”, frisou Daniel Ferreira. Daniel Ferreira, psiquiatra e presidente da Associação de Promoção da Saúde Mental “A Ponte”, realça o estigma e o tabu como uma das principais barreiras na prevenção do suicídio. O fenómeno está, na maioria das vezes, associado às doenças mentais, principalmente a depressão, e ao abuso do álcool.
A depressão por sua vez é originada por vários outros fatores, tais como problemas familiares, desentendimento no namoro ou no casamento, situação económica e até a falta de oportunidades e perspetivas de vida. A prevenção deve indicar na família que, muitas vezes, não está preparada para detetar os sinais apresentados pelo doente.
O que leva os jovens a cometer suicídio?
Segundo Daniel Ferreira, uma pessoa que pretende suicidar-se sempre dá sinais em casa. “Geralmente queixa-se de dores pelo corpo, de mal-estar, diz coisas que não fazem sentido e, nem sempre, os médicos nos centros de saúde estão preparados para detetar os sintomas do paciente”, aponta. Sublinhou que o suicídio é um fator que existe no país e é um “problema sério” que merece o envolvimento de todos para uma melhor inclusão das pessoas propensas a cometer este ato de desespero.

Para os especialistas, suicídio é mais do que fatalidade.Pesquisas académicas demonstram que pelo menos 90% dos adolescentes que se matam têm algum tipo de problema mental como foi atrás referido. Eles variam da depressão - a principal causa para suicídios neste grupo - e passam por ansiedade, violência ou vício em drogas. Alguns pontos que são motivos de crises para jovens e que podem ajudar a explicar o suicídio dessa parcela da população.

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